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UMA ANÁLISE SOBRE OS MISTOS. | ||||
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Pra começar é preciso definir o termo. Torcedor misto nada mais é do que o sujeito que torce para mais de um time. Em geral, para um time de sua região e outro de caráter “nacional”. Existem ainda os que torcem para um time em cada estado, ou até mesmo, em cada país em que se pratique futebol. Quantas vezes já ouvi: “Aqui tu torce pra que time? E em São Paulo? E no Rio? E no Sri Lanka?”
Os mistos, em sua maioria, se concentram principalmente no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, em algumas partes do Sul e nas cidades do interior do Sudeste. Não por acaso, em centros onde o futebol local não é assim, digamos, tão forte. Isso, aliás, é premissa básica para surgimento dos mistos, mas não só isso.
O fenômeno dos mistos tem relação direta com as coberturas midiáticas. Durante os primeiros 70 anos do século XX, no desenvolvimento do futebol no Brasil, o grande canal de informação era o rádio, que tinha como principal emissora a carioca Rádio Nacional. Que, evidentemente, transmitia em esmagadora maioria a cobertura dos times do Rio. Nada mais natural que o cidadão de São Luís, Campo Grande, Aracaju e etc, torcesse para Botafogo, Fluminense, Vasco ou Flamengo.
Isso explica o porquê dos times cariocas cativarem muito mais torcedores que os grandes times de São Paulo até a década de 80. Explica também o fato de times até bem mais vencedores, como Cruzeiro, Inter e Grêmio, quase não terem torcedores mistos espalhados pelo país. Afinal, não estão no centro da produção de informação.
Somente com a intensificação das transmissões televisivas, a partir da metade dos anos 80, principalmente com emissoras paulistas como a Band (além da paulistização da Globo), é que os times de SP sobrepujaram em muitos lugares a preferência dos torcedores pelos times cariocas (sem esquecer que o desempenho vitorioso dos paulistas também foi fator importante).
A transmissão da TV explica também o processo de diminuição dos mistos que vem ocorrendo aqui em Fortaleza desde o ano 2000. A partir do Campeonato do Nordeste do começo dessa década, os jogos de Fortaleza e Ceará passaram a ser transmitidos com muito maior freqüência. Inclusive jogos da Série B e estadual. A subida do Tricolor para a Série A também contribuiu para esse processo, pois mostrou que não se precisava torcer para um time do “eixo” para ter um representante na elite.
Um ou outra pessoa pode argumentar que é direito do torcedor escolher um time vencedor, mesmo que seja de outro estado, em detrimento de um time pouco competitivo de sua própria cidade. Eu aceito esse argumento até certo ponto. Concordo que para um cara que mora em Piripiri-PI é bastante limitador torcer apenas para o time da cidade, o 4 de Julho. Mas nas cidades que possuem times de certa tradição regional, e que disputam a série B com possibilidade de chegar à elite, eu abomino totalmente a existência dos mistos.
Primeiro porque em muitos casos, como quando um time daqui sobe, ou um grande de SP/RJ desce, torcer pra esse time de fora é torcer pra um adversário direto. Quem torce ABC e Vasco, por exemplo, vai ficar como quando eles se chocarem na série B desse ano?
Terceiro porque ao torcer por um time de fora automaticamente o torcedor deixa de engrandecer seu time local. Isso é óbvio. Afinal, o que o individuo gasta com merchands, produtos oficiais, audiência televisiva e etc do time de fora, poderia ser integralmente voltado pro time da sua cidade, gerando mais renda e fazendo-o mais forte.
É comum as pessoas do Rio e São Paulo acharem normal a existência de mistos espalhados pelos quatro cantos. Isso deve acontecer porque não é em seus estádios que surgem “torcedores” com camisas de outros times, “torcedores” que comemoram gols alheios no meio da arquibancada, “torcedores” que deixam de ir pro campo para ficar em casa vendo um time de outra cidade.
Atualmente, como já disse acima, percebo com satisfação que esse quadro vem diminuindo, ao menos no Nordeste. Existem movimentos diversos de repúdio aos mistos, como aconteceram com a torcida do América em Natal, do CRB em AL e com a torcida do Vitória, que expôs uma faixa apontada pra torcida do Flamengo com os dizeres: “Vergonha do Nordeste”. Muita gente achou agressivo, um ataque a liberdade individual. E eu digo: de jeito nenhum. Falta de liberdade seria proibir esse tipo de manifestação (que em nenhum momento foi violenta). Gesto que resumiu um sentimento genuíno de milhares de nordestinos contra essa síndrome de colonizado, esse complexo de vira-lata que faz achar que o que vem de fora é sempre melhor, e contribui com o atraso de uma das maiores expressões do nosso povo: o futebol e os times que amamos - exclusivamente.
Fonte: Futgol
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