A história do árbitro potiguar que hoje viaja o mundo com a seleção
brasileira de Ginástica Rítmica começou de forma muito despretensiosa. O
advogado Leonardo Palitot, que recentemente foi o único árbitro
brasileiro a arbitrar os Jogos Pan-Americanos de Lima-Peru e que
atualmente é o Coordenador Adjunto do Comitê Técnico da modalidade,
junto à Confederação Brasileira de Ginástica, iniciou sua paixão pela
Ginástica ainda nos tempos de escola, quando acompanhava os treinos da
irmã.
Ele precisa fazer uma “verdadeira ginástica”, com perdão do
trocadilho, para conciliar a intensa agenda de advogado, sua atividade
principal, e o trabalho como árbitro nos campeonatos mundo afora.
Leonardo só pode se dedicar ao esporte quando não há conflito com a
advocacia. Sorte que a maioria deles cai no fim de semana e, assim,
consegue dar conta de três paixões: a terceira é viajar!
“Ainda que nunca tenha sido o meu objetivo principal e que jamais tivesse me passado pela cabeça ser árbitro para poder viajar, em consequência da necessidade da missão, tive de passar a voar bastante. Sou agraciado com a fantástica oportunidade de conhecer outros lugares, outras pessoas e outras culturas”, explica.
Por causa da ginástica, Leonardo já este nos seguintes países:
Equador, Bulgária, Itália, Azerbaijão, Estados Unidos, Colômbia, Israel,
Espanha, Peru, sem falar da infinidade de viagens dentro do Brasil.
De curioso a árbitro internacional
Tudo começou quando era muito pequeno e estudava no Colégio Nossa
Senhora das Neves, em Natal, que tinha grande tradição na antiga GRD
(atualmente o esporte só se chama GR). Ele acompanhava os treinos da
irmã, Amanda, mas depois acabou assistindo a todos os outros, além das
competições das amigas, o que o fez desde cedo formar uma base de
conhecimento sobre o esporte e diferenciar como era a forma correta de
executar todos os movimentos. “De tão próximo que me tornei da equipe e,
consequentemente, das professoras Hosana Matias e Andrea Dutra, que até
hoje são grandes amigas e a quem devo grande parte do que aprendi”.
A história como árbitro só aconteceu mesmo em 2003, quando fazia o
curso de Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
mas seguia acompanhando e assistindo às competições da modalidade e
frequentando os treinamentos quando podia. A motivação veio após não
concordar com os jogos escolares do estado em 2002. Resolveu então fazer
o curso de arbitragem estadual, para o qual foi aprovado em primeiro
lugar e veio o convite para começar a arbitrar.
“Lembro que eu tinha, na época, vergonha em razão de eu ser o único homem, mas o meu desejo de fazer as coisas justas terminou falando mais alto e topei o desafio. E daí em diante não consegui mais parar”, lembra.
Na Ginástica, após cada Jogos Olímpicos mudam-se as regras, e se faz
necessário que sejam realizados novos cursos para que sejam outorgados
novos brevets aos árbitros. Pegando carona na mudança de ciclo após os
Jogos de Athenas em 2004, foi aprovado no curso nacional de arbitragem,
realizado em Curitiba (PR). Meses depois, fez o primeiro curso
internacional, no Rio de Janeiro (RJ), e também conseguiu a aprovação.
Em 2005, era o único homem brasileiro com o brevet de árbitro
internacional e um dos poucos no mundo. “Confesso que enfrentei muitas
barreiras por isso, às vezes não era convocado para as competições por
não ter com quem dividir o quarto ou simplesmente era desencorajado por
ser homem, sempre diziam que no esporte de mulheres não havia espaço
para mim”, recorda.
A partir daí, as viagens ficaram
cada vez mais constantes. Passou a conhecer muitas cidades e estados do Brasil
e também a ministrar cursos de arbitragem, fazer consultorias e depois foi alçado
à categoria de Diretor de Arbitragem da Federação Norte-Riograndense de
Ginástica, cargo que ocupa até hoje.
Após os Jogos Olímpicos de Pequim 2008, no Curso Internacional do
ciclo seguinte, foi aprovado, junto com a hoje Coordenadora do Comitê
Técnico de GR, Professora Renata Teixeira, em primeiro lugar, o que
abriu muitas portas e foi nesse ciclo que pôde fazer as minhas primeiras
arbitragens de Torneios Internacionais de caráter amistoso e depois se
uniu a outras pessoas da área para resgatar a tradição brasileira na
Ginástica Rítmica, o que ajudou na conquista brasileira nos
Pan-Americanos de Guadalajara 2011 e Toronto 2015.
Durante este tempo, assistiu aos campeonatos mundiais de Montpellier,
França, em 2011, e também ao mundial de Stuttgart, Alemanha, em 2015.
Também esteve presente na vitória do Brasil em Toronto em 2015. Foram
muitas idas e vindas a Aracaju (SE), local de treinamento da seleção
brasileira de Ginástica.
Após os Jogos Olímpicos do Rio 2016, passou a desempenhar um papel
oficial junto à CBG e é o diretor de arbitragem das principais
competições nacionais. Já quanto à arbitragem internacional, após o
Curso realizado em Guadalajara, Espanha, em 2017, foi aprovado com notas
para a mais alta categoria de arbitragem internacional, o que o
credenciou a ter o maior brevet possível naquela oportunidade. “Essa,
sem dúvida, foi a maior conquista pessoal que obtive na Ginástica, e a
que me credenciou a poder atuar como árbitro nas competições
internacionais”.
Pelo feito, passou a ser convocado para atuar como árbitro do Brasil
nos principais eventos internacionais. O primeiro campeonato mundial
como árbitro foi em Sofia, Bulgária, no ano passado. Recentemente, foi o
único árbitro brasileiro a arbitrar os Jogos Pan-Americanos de Lima, no
Peru.
“Com as viagens eu pude ver que internacionalmente não há qualquer
empecilho pelo fato de ser homem, talvez isto seja até um ponto
positivo. Aquela vergonha do passado, desde há muito tempo que se
transformou em orgulho. Enquanto for possível e eu for útil aos
propósitos do Brasil, desde que haja compatibilidade com meus afazeres,
espero poder seguir contribuindo para viajar para muitos outros lugares
representando o meu país”, finaliza.
Fonte: agoraeuvoo
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