domingo, 2 de fevereiro de 2025


Nós gostamos de você: há 15 anos, Túlio Maravilha vestiu a camisa do Potyguar em jogo festivo

Ícaro Carvalho
Repórter

Nas arquibancadas, a torcida do Potyguar de Currais Novos entoava forte: “Túlio Maravilhaaaa, nós gostamos de você”. Embora a música de Jorge Ben Jor lançada em 1972 tenha sido para o atacante Fio Maravilha, nada impediu que os torcedores do Tricolor curraisnovense parafraseassem para comemorar a presença do “atacante dos 1.000 gols” na cidade seridoense, fato que comemorou 15 anos no último dia 10 de janeiro. Em 2010, o amistoso entre Potyguar Seridoense e Santa Cruz do Inharé entrou para a história do futebol potiguar pela presença de Túlio Maravilha, ex-Seleção Brasileira e Botafogo, contratado especialmente para vestir a camisa do Leão do Seridó, deixando uma bola na rede no Estádio Coronel José Bezerra.

 

Na época comemorando seu aniversário de 20 anos de fundação, a diretoria do Potyguar de Currais Novos quis fazer algo para marcar a data de forma especial. Segundo Carlson Gomes, presidente de honra do Potyguar na época, a ideia surgiu no segundo semestre de 2009, ano em que o Potyguar viveu o melhor ano de sua história, sendo vice-campeão estadual.

“O Potyguar ia completar aniversário e eu ajudava na época na diretoria. Resolvemos fazer um movimento para homenagear todos os ex-presidentes que tinham passado pelo clube e queríamos trazer uma grande atração. O nome de Túlio Maravilha surgiu porque eu tinha o contato do empresário dele e tentamos viabilizar essa vinda”, lembra.

O ex-dirigente lembra ainda que muitos torcedores, tanto do Potyguar quanto do Botafogo, auxiliaram na viabilização financeira para a vinda de Túlio, que contou com passagens aéreas, hospedagem e translado. O dirigente, no entanto, lembra ainda que havia um pré-contrato assinado entre Túlio e o Potyguar para que o camisa 7 jogasse a Copa do Brasil de 2010 pelo Potyguar. “Muita gente ajudou para viabilizar essa vinda para esse jogo festivo. Conseguimos um apoio com o ex-presidente, que era Tomba, o time do Santa Cruz ir sem custos para o amistoso. Infelizmente perdemos o jogo”, cita.

O fim de semana envolvendo Túlio em Currais Novos foi especial. Ele chegou na sexta-feira para conhecer os colegas de time e promoveu uma palestra no sábado, no Aero Clube de Currais Novos, além de dar autógrafos para torcedores botafoguenses, em sua maioria.

“Túlio chegou e a movimentação na cidade foi intensa. Ele chegou, conheceu o estádio e foi para o jogo. O que me chamou a atenção é que na época não existia essa parte de coletiva e naquele ano teve especialmente uma coletiva de imprensa para Túlio na Sidys TV a Cabo. Foram convidadas várias emissoras de várias cidades, inclusive de Natal. O que me chamou a atenção é que pela primeira vez aconteceu essa coletiva aqui no esporte local”, lembra Cesário Júnior, jornalista curraisnovense que trabalhou na cobertura do evento e conseguiu um autógrafo do camisa 7.

Túlio Maravilha responde às perguntas do radialista Cesário JR | Foto: Cedida

Gol, ingresso personalizado e presente valioso

No dia seguinte, o jogo. O Estádio Coronel José Bezerra estava lotado para a partida e Túlio foi celebrado desde o aquecimento. Com bola rolando, o resultado não foi dos melhores: o Potyguar saiu atrás no primeiro tempo, com gol do lateral direito Ângelo. No começo da etapa final, após uma bola na trave, brilhou a estrela do campeão brasileiro de 1995 pelo Botafogo: Túlio aproveitou rebote e empatou o jogo. A alegria durou pouco, pois o zagueiro Marcos Carlos desempatou para os visitantes, colocando água no chopp dos curraisnovenses.

“Túlio fez o gol de número 900 pelo Potyguar. A princípio ele não considerou, mas devido a um contrato que ele tinha com o Botafogo de Brasília para marcar o gol de nº 900 por lá. Depois do gol por lá ele colocou esse gol do Potyguar como 901 na carreira”, cita Carlson Gomes. Na época, os ingressos se esgotaram rapidamente, bem como a camisa especial produzida para a partida.

O ingresso também era personalizado, com uma foto de Túlio. Carlson Gomes relembra que uma das camisas utilizadas no jogo foi dada ao prefeito da cidade, o seu pai, Geraldo Gomes, que era apaixonado pelo Botafogo. “Uma das camisas ele fez uma doação para uma casa de albergue sortear e a outra camisa foi dada a papai, que foi justamente a camisa dos 900 gols”, completa.

Radialista João Jair entrevista o ídolo alvinegro, Garrincha | Foto: Cedida

Botafogo e Currais Novos possuem uma relação histórica

A vinda de Túlio Maravilha à Currais Novos, ídolo do Botafogo, foi mais um episódio que conectou o clube da Estrela Solitária à cidade seridoense. Isso porque o próprio Alvinegro já havia jogado na cidade, assim como o ídolo Mané Garrincha, em amistoso festivo.

No caso de Garrincha, o jogo aconteceu em 1973, quando o craque bicampeão mundial fazia uma série de amistosos pelo Nordeste. Foi a última aparição de Garrincha no Estado, que também vestiu a camisa do Alecrim e do Flamengo em duelos contra Sport e ABC, respectivamente.

O jogo era entre a Seleção de Currais Novos e o Centenário de Parelhas, com o time da casa saindo vencedor do duelo. Foram dois gols de Nabor para o time curraisnovense e um de Canteiro para os parelhenses. O time de Currais Novos foi a campo com a seguinte equipe: Castilho; Lucemário, Ivo, Imagem e França; Nêgo Cia, Geraldinho e Oliveira; Fernando (Garrincha posteriormente), Nabor e Dota.

Na época, Garrincha chegou à Currais Novos no sábado à noite e ficou hospedado no histórico Tungstênio Hotel. O então repórter da Rádio Brejuí e hoje professor aposentado João Jair, 75 anos, teve a honra de bater um papo no hotel e entrevistá-lo no campo de jogo. Ele lembra que o Mané Garrincha carregava consigo uma gaiola cheia de passarinhos coletados em várias cidades do Nordeste. A gaiola era tão grande que sequer passava na entrada do hotel.

“Quando ele pegava na bola a “zoada” era grande. O pessoal ia à loucura. Pra começar o jogo em si foi uma novela, todo mundo queria conversar com ele. E o Garrincha realmente era uma pessoa muito humilde, muito simples. Era uma pessoa até infantil, não tinha maldade nenhuma. Falou com todo mundo”, lembra o jornalista e professor aposentado João Jair, 75 anos, que guarda um registro histórico entrevistando Garrincha no gramado do Coronel. A foto “rodou o mundo” segundo ele e está presente no Museu do Botafogo e no Museu do Garrincha, em Pau Grande/RJ, segundo João Jair. Ele cita ainda que a cantora Elza Soares, esposa de Garrincha, esteve em Currais Novos duas semanas antes para uma apresentação.

Além de Garrincha, outro campeão mundial ligado ao Botafogo que passou por Currais Novos foi Jairzinho, o “Furacão” da Copa de 70. O Botafogo, eliminado do Carioca de 1981, fez uma excursão pelo Rio Grande do Norte, jogando contra Baraúnas (0x0) e América-RN (1×0 para o Alvirrubro). O terceiro jogo aconteceu meio que por acaso: o duelo seria no Ceará, mas os cearenses desistiram e Currais Novos sediou o jogo. O deputado estadual Tomba Farias era o diretor de futebol do Leão na época. O elenco do Botafogo contava com nomes como Paulo Sérgio, Jerson, Mendonça e Perivaldo.

O jogo aconteceu às 15h para aproveitar a iluminação natural, já que o Coronel não tinha refletores, e terminou com vitória botafoguense por 2×1. A renda do jogo foi de Cr$ 2.000.000,0 (170 salários mínimos à época). No mesmo dia, Flamengo e Vasco decidiam o Carioca, mas Currais Novos parou mesmo para ver o Botafogo e Jairzinho, que fez sua última partida vestindo a camisa alvinegra justamente no Rio Grande do Norte, segundo o jornalista e pesquisador Kolberg Luna.

Jogadores do Potyguar e do Botafogo juntos no jogo em 1981 | Foto: Cedida
  • Relato de um torcedor que virou repórter…

Eu era um moleque de apenas 13 anos e era apaixonadaço pelo Potyguar de Currais Novos. Na campanha de 2009, fui a praticamente todos os jogos com meu pai naquela temporada que marcou o futebol da cidade.

No ano seguinte, quando soube que Túlio Maravilha viria à Currais Novos para jogar pelo Potyguar, achei fantástico. Achei algo de outro mundo, uma situação inimaginável para a cidade e para o meu clube do coração. A ida para aquele jogo, que teve o ingresso até um pouco mais caro do que o habitual, foi o meu presente de aniversário por parte da minha mãe.

Infelizmente não consegui chegar perto do campeão brasileiro pelo Botafogo de 1995 para fazer uma foto ou pegar algum autógrafo. Era muito pequeno e não tinha ainda o conhecimento de como chegar perto dos grandes ídolos. Um amigo do meu pai chegou a pegar uma camisa minha do Leão e conseguiu um autógrafo de Túlio Maravilha, item que guardo com muito carinho até hoje. Quem diria, que 15 anos depois, me tornaria repórter a cobrir grandes espetáculos e grandes jogos do futebol potiguar e nacional?

(Ícaro Carvalho)

Fonte: TN

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