Preparando campeões
Felipe Gurgel - RepórterJosé dos Santos Figueiredo, ou só Figueiredo, pode ser considerado como o maior técnico de atletismo na história do esporte no Rio de Grande do Norte. Pelas suas mãos já passaram atletas como Magnólia Figueiredo, que, com ele, participou de quatro Jogos Olímpicos e Vicente Lenílson, que conquistou uma medalha de prata no revezamento 4x100 nos Jogos Olímpicos de Sydney, no ano 2000. Com 35 anos de esporte, Figueiredo, hoje em dia, trabalha mais no desenvolvimento de jovens atletas do Rio Grande do Norte, como Diego Cavalcante, atual destaque do esporte no Estado. Para Figueiredo, o que falta para o Rio Grande do Norte ser uma referência no atletismo brasileiro, falta apenas o investimento da iniciativa privada, já que o poder público, tanto o governo do Estado, quanto as prefeituras estão investindo na descoberta de novos valores. De acordo com ele, no ritmo que o atletismo potiguar está indo, provavelmente algum atleta deverá integrar a seleção brasileira já nas Olimpíadas de Londres, em 2012.
Júnior Santos
José dos Santos Figueiredo, técnico de atletismo
Como você analisa o nível do atletismo praticado no Rio Grande do Norte atualmente?
José dos Santos Figueiredo, técnico de atletismoVeja, o atletismo potiguar, historicamente, sempre teve um nível de razoável para bom, isso na década de setenta, oitenta. Na década de noventa, com a construção da pista de atletismo do CAIC, foi possível termos um avanço grande na qualidade técnica dos atletas. A partir do ano de 1998 nós melhoramos bastante. Hoje em dia, na região Nordeste, o Rio Grande do Norte rivaliza com Pernambuco nas competições. Ou ganhamos ou eles ganham. Temos uma equipe relativamente forte e individualmente temos meninos de grande potencial. Tivemos destaques de atletas na região, em disputas escolares. Nosso maior exemplo é Magnólia Figueiredo, que ganhou campeonatos e disputou quatro Olimpíadas. Ela sempre foi a nossa maior estrela. Sempre tivemos atletas de bom nível.
Não só em Natal, mas nos municípios do interior do Estado o atletismo vem revelando grandes valores. Como você está vendo essa interiorização do esporte?
O Rio Grande do Norte sempre teve atletas fortes nascidos, criados e treinados no interior e o grande exemplo é a cidade de Currais Novos, que desde a década de oitenta apresenta um atletismo forte e hoje temos em várias cidades do interior, trabalhos desenvolvidos, como, além de Currais Novos, a cidade Touros, que tem um trabalho brilhante, desenvolvido pelo professor William, Goianinha, que nos últimos cinco anos deu um avanço muito grande no esporte, principalmente pelo apoio da Prefeitura de lá, com o professor Carlos no comando. Temos também projetos sendo desenvolvidos em Serra Caiada, São José de Mipibu, dirigido pelo professor Dalmo, um trabalho muito bom desenvolvido com a molecada, principalmente nas provas de fundo.
Vicente Lenílson é uma prova disso?
Com certeza. Sempre tivemos atletas do interior do Estado e Vicente Lenílson é o maior exemplo, de maior destaque, que chegou a disputar Olimpíadas e conquistar uma medalha de prata, no revezamento 4x100 em 2000. Mas, temos também, em Currais Novos, que é o grande celeiro no interior do Rio Grande do Norte, a Marineide Silvestre, que já foi campeã Mundial na categoria Máster, e no último final de semana foi vice-campeã mundial nas provas de fundo, temos também Cláudio Richardson, que chegou até a Seleção Brasileira na marcha atlética e muitos outros. Isso se deve ao excelente trabalho desenvolvido nas cidades do interior do Rio Grande do Norte.
Os resultados aparecem por causa dos patrocínios que o atletismo possui. Mas, ainda faltam investimentos?
Em relação aos patrocínios da iniciativa privadas, eles ainda deixam a desejar na nossa região, principalmente. Mas eles são sempre bem-vindos. Os grandes investimento feito no atletismo em nosso Estado, são feitos pelas Prefeituras, pelo poder público. A prefeitura de Currais Novos sempre investiu no atletismo. Em Goianinha, em Touros, nas outras cidades que são destaques no atletismo, sempre as prefeituras ajudam os atletas. A pista aqui de Natal foi construída pelo Governo do Estado. Mas, enfim, ainda dependemos muito do poder público. Mas, existem casos esporádicos de patrocínio por parte da iniciativa privada, mas ainda precisamos muito mais desse envolvimento dos empresários.
O maior nome do esporte, aqui no Estado é o de Diego Cavalcante, que vem conquistando recordes e medalhas em todas as competições que disputa. De onde surgiu?
Diego surgiu das competições escolares, orientado pelo professor Nilton Baraúna, técnico experiente, lá na escola dele, em Parnamirim. Aí, no ano de 2005 eu percebi um grande potencial em Diego e convidei para treinar comigo. Foi na época que Nilton estava saindo de Parnamirim, vindo trabalhar em outra escola, aqui em Natal e deu certo. Foi uma passagem tranquila de técnico. Diego hoje não é o nosso único destaque nas competições, mas é uma esperança real. Estamos realmente esperançosos que ele possa ter uma carreira brilhante, a exemplo de Magnólia, Vicente Lenílson. Só esperamos que ele tenha paciência e juízo para que ele possa realmente desenvolver todo o potencial que possui.
Existem outras revelações do atletismo, fora Diego?
No Campeonato Brasileiro de Juvenil, que aconteceu no mês de julho, tivemos Diego, que foi campeão, e também uma menina chamada Jéssica Janine, que era atleta da escola estadual Bartolomeu Fagundes, treinada pelo Eugênia, e essa moça foi campeã brasileira também. Temos o Jaílson, no salto triplo. Temos também uma moça de Currais Novos, a Emilaine, do salto em distância, que tem uma qualidade muito grande. Tem também o Joabson Nascimento, também de Currais Novos, que no final de semana passado, foi campeão brasileiro sub-23 no salto em distância, que no meu ver, é um atleta que tem potencial de disputar uma Olimpíada. Existe também a Gerlane, que foi vice-campeã brasileira, na prova de 3.000 metros com obstáculos, e é de Ceará – Mirim. Ela é de grande potencial. Nessa mesma prova dos 3.000 metros, tivemos a Damiana, que ficou em terceiro lugar. Na mesma prova, conseguimos colocar duas atletas no pódio. Esses são, nesse momento, os atletas com maior potencial, com uma possibilidade de chegar longe, até porque estão mais maduros. Mas, se procuramos nas categorias infanto-juvenis, onde fomos quinto lugar no geral, no campeonato brasileiro, no mês de junho, em Fortaleza, ganhamos muitas medalhas. Os destaques nessa competição foram Érica, de Goianinha, que é uma grande esperança nossa, e a Taís. Ainda existem duas meninas, lá de Goianinha, que eu acho que vão ser atletas de seleção brasileira. O problema é que são muito novas, mas estamos trabalhando para que elas atinjam o máximo quando chegarem na idade adulta. Existem um garoto em Touros, de apenas 14 anos, o Geovane, que tem potencial para ser campeão brasileiro. Como ele é novo, ainda estamos tratando ele para o futuro, daqui a uns quatro anos.
Qual o diferencial do atletismo do Rio Grande do Norte?
Olha, não existe mágica para isso não, não tem nada com o clima, com sorte. Existe sim é muito trabalho. A Federação procura manter um calendário para sempre existir competições, a Secretaria Estadual de Esportes, o Governo do Estado tem nos apoiado muito. Em fim, é um trabalho conjunto. O atletismo do Rio Grande do Norte está trabalhando em paz, com harmonia. A Federação, os treinadores, com as prefeituras, as secretarias de esporte municipais, temos procurado em desenvolver um trabalho de comum acordo entre todos. E esse trabalho vem dando resultado. Estamos também realizando muitos cursos de reciclagem para os treinadores, temos procurado manter uma política de boa vizinhança com as secretarias de educação. A nossa arbitragem está envolvida com os atletas de escolas, para eles irem se acostumando com as regras. Em todas as competições estamos entre os melhores, mas é um trabalho realizado a muitas mãos.
Ainda falta muito para o atletismo do Rio Grande do Norte ser referência para os outros Estados?
Nós necessitamos de mais pistas. Em todo o Rio Grande do Norte, só existem duas pistas para desenvolver um atletismo de alto nível. Uma em Natal e a outra em Currais Novos. Em Goianinha existe um projeto para a construção de uma pista no município. Mas, em Touros, São José de Mipibu, lugares que já possuem trabalhos consagrados, ainda não possuem pistas para os atletas. Ainda temos muita coisa para caminhar. Pista sintética só temos aqui em Natal. Trabalhamos com muitas dificuldades, mas, mesmo assim, estamos conseguindo grandes resultados.
Existe alguma possibilidade de algum atleta potiguar integrar na seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012?
Temos dois atletas com chances de disputar a próxima Olimpíadas. O Diego, nas provas de 100 e 200 metros e o Joabson. Creio que ele tem potencial para saltar o exigido pela Confederação Brasileira de Atletismo. Mas, ainda faltam três anos, temos muita coisa para fazer, temos muito apoio para conquistar para esses atletas, e temos que superar esses obstáculos, mas que há muita possibilidade do Rio Grande do Norte, mais uma vez, ser representado nas Olimpíadas.
Como você analisa esse problema de que alguns atletas da seleção brasileira terem sido pegos no exame antidoping?
O doping, não só no atletismo, mas também nas outras modalidades, é uma espécie de câncer. É uma traição que os atletas usam. Nesse caso específico, não foi um atleta, ou alguns atletas que decidiram tomar. Foi uma coisa planejada. Era uma espécie de “tratamento” de saúde, digamos assim, que o treinador imaginou, executou com a finalidade de melhorar o desempenho de seus atletas. Isso é uma lástima, uma pena, porque usaram substâncias proibidas, substâncias que podem fazer mal a saúde dos atletas, que pode, inclusive, levar a morte. Eu acho que esse momento é de que nós, que fazemos o atletismo, tenhamos coragem de enfrentar essa situação. No atletismo o doping é confirmado, porque se procura muito, a Confederação tem o cuidado de combater essa prática. Só esse ano ela destinou R$ 600 mil para exames dessa natureza. Não acredito que seja só o atletismo que o uso de substâncias proibidas são utilizadas. Aqui se acha porque temos esse controle rigoroso.
Você, como técnico, já passou por alguma situação de ter atletas que faziam uso de substâncias proibidas para melhorar seus desempenhos sem o seu conhecimento?
Eu nunca fiquei sabendo. O que posso dizer é que sou terminantemente contra o doping. Nunca recomendei e nunca nenhum atleta meu foi flagrado no exame antidoping e espero que isso nunca venha a ocorrer.
Fonte: Tribuna do Norte
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